Um amigo trouxe aos meus olhos alguns dos textos que têm sido publicados por Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo. Impressionara-o sobretudo este. Católico confesso, e ademais praticante, fica sempre embevecido quando lhe falam de Deus. Nós, os que já fomos apresentados a Deus, os que procuramos fazer Dele o centro da nossa vida, gostamos de ouvir falar de Deus. Nas palavras dos outros, no testemunho alheio, descobrimos novas dimensões da divindade, mais uma ou outra curva do infinito.
Sendo a Fé um dom, há sempre quem faça da não-fé uma crença absoluta. E os mais inflamados incréus não se bastam com a sua individualíssima incredulidade. Procuram exportá-la, fazendo um apostolado cerrado e comprometido. Mas, como bem sublinha Pedro Arroja, ateu que é ateu combate muito mais a Igreja Católica do que a própria existência de Deus. Dawkins é talvez o mais mediático representante dessa cruzada.
Perdoem-me o simplismo desta exposição, que se explica apenas pela necessidade de ser breve. Dawkins não consegue provar que Deus existe, fazendo assentar essa necessária prova nos métodos das ciências experimentais. Pedro Arroja sai do universo redutor que é o de Dawkins e demonstra que é melhor não ir por aí, recordando que é a própria Igreja que alerta para isso.
Contudo, vale a pena questionar o próprio pressuposto metodológico de Dawkins, assumindo a sua lógica intrínseca. Só existe o que se consegue ver ao microscópio? Só há, falo de existência em sentido próprio, o que passa pelo crivo das ciências naturais? Hummm.
A ciência, penso eu, evolui. Isso, penso eu, podemos todos aceitar pacificamente. Pessoalmente, não preciso que a ciência me diga que Deus existe. Mas, mesmo aceitando como bom o princípio contrário, seria menos peremptório na defesa do postulado de que é à ciência (no estádio em que ela a cada momento está) que cabe estabelecer o que há ou deixa de haver. Será que a molécula da água há 500 anos não existia? Na lógica de Dawkins, parece-me, as coisas não são. Não há espaço para a ontologia. Só há gnoseologia. Tudo se resume, afinal, à epistemologia. Não há essência. Há conhecimento. Só quem não tem da própria ciência uma noção evolutiva, só quem não admite a possibilidade do erro e da sua superação pode aceitar esta asserção.
E a beleza? Não haverá beleza? Haverá uma bitola científica do belo? e do justo? Consegue a beleza ficar refém do microscópio? Quanto muito vê-se a simetria. E as cores. E talvez seja possível captar impulsos eléctricos no cérebro de alguém diante de uma pintura com elementos simétricos e explosões de amarelo. Mas será isso a beleza? Digam-me isso a mim, que me fascino com a assimetria e detesto o amarelo... Haverá dúvidas quanto a saber que existem "coisas" para além do alcançável em laboratório? Como se prova o amor que temos pelos nossos filhos?
E se Deus existir, mesmo, Dawkins?
Clap clap clap
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